Quando me sentei em frente ao computador, cheio de pretensões poéticas, e decidido sobre o tema do meu primeiro texto, lembrei-me, quase que instantaneamente, da foto que havia visto há algum tempo na faculdade. Não conhecia a história da foto nem do fotógrafo, então decidi pesquisar um pouco. Na fotografia, a menina se arrasta em direção a um campo de alimentação - está morrendo de fome, literalmente - enquanto que o urubu parece esperar, pacientemente, sua morte. Foi fotografada por Kevin Carter, em 1993, no Sudão. Kevin fazia parte de um grupo de quatro fotógrafos conhecidos pela impressa internacional como The Bang-bang Club, em função da coragem com que captavam imagens fortíssimas da guerra. A fotografia polêmica foi comprada pelo jornal The New York Times. Ganhou o prêmio Pulitzer de 1994 e alarmou o mundo para a fome na África. Tudo estava muito bom, até que alguém decidiu perguntar-se o que o fotógrafo teria feito para salvar a criança. Carter balançou os ombros e percebeu que nem ele tinha parado para pensar naquilo... Deu várias e diferentes versões até declarar, em uma das suas últimas entrevistas, que odiava a fotografia. Trancou-se na garagem de casa e asfixiou-se com os gases do escapamento do próprio carro, um ano depois de tirar a foto e no mesmo ano em que ela recebeu o tão cobiçado prêmio.
A tecnologia e a fome.
Nunca as desigualdades sociais foram tão violentas, mesmo no passado, no auge da revolução industrial, com toda a exploração do trabalhador e miséria, havia uma diferença tão grande entre as massas sociais.
A discrepância cultural impede a inserção das massas carentes às tecnologias. Enquanto uma minoria desenvolve alta tecnologia e outra minoria usa, existem bilhões de pessoas que só precisam de pão e água. Não basta ensinar ligar o computador, a pessoa pode até aprender a apartar o botão, mas não saberá o significado do ato.
Grupo 1: Desenvolve tecnologia;
Grupo 2: Tem capacidade de absorver e usar a tecnologia criada pelo grupo 1;
Grupo 3: Não faz nem idéia do que o grupo 1 criou, o que é e nem para que serve. Tem outras necessidades, muito mais básicas.
A involução.
Quem nunca ouviu um antigo comentar que as crianças de hoje são muito mais inteligentes que as crianças de outras épocas. Isso é verdade. Pais que desenvolvem habilidades intelectuais geram crianças com capacidade intelectual maior. Se eu sou médico, estudo muito, desenvolvo áreas do meu cérebro que meu pai não desenvolveu, é muito provável que meus filhos nasçam com essas áreas já pré-desenvolvidas – uma espécie de “herança genética”.
O processo inverso.
A situação atual, de extrema necessidade, desnutrição e fome, faz com que o cérebro humano inicie um processo de “involução”. Ele começa a “desligar” certas áreas cerebrais, num processo que, de geração em geração, vai diminuindo o poder intelectual até o ponto em que a única área do cérebro ativa será a da sobrevivência. Quando isso acontecer, matar um semelhante para comer será uma reação puramente instintiva, uma simples questão de sobrevivência. O homem está sendo reduzido a condição de animal.
Questão de lógica.
Ricardo César Boaretto, um amigo muito inteligente, um dia me disse que o mundo entrará em colapso, e só quando isso já estiver acontecendo é que os governantes vão perceber que é mais barato dar comida para o povo que pagar para se proteger dele. Quando filhos de políticos começarem a morrer pelas mãos do povo morto de fome esse processo começará a se reverter por uma simples questão de lógica econômica. Quando se rouba o povo, tira-se dele o direito de ser gente e o reduz a condições selvagens.
2 comentários:
Totalmente humana e puramente lógica. Assim descrevo a evolução da espécie homo sapiens perante o caos hodierno. Somente nós mesmos podemos mudar o rumo a que se encaminha tal ser vivo (o abismo da extinção) e possibilitar um futuro para nossos pequenos "humaninhos". A involução é uma consequente realidade. A evolução,uma opção salvadora. E única.
Geziel
Estudante do Curso Técnico em Segurança do Trabalho do Colégio Tableau
Olá Rodrigo, td bem?
Parabéns pelo blog.
Realmente a questão da desigualdade é algo muito preocupante.
Vivemos em um mundo, onde o ter é mais importante do que o ser.
Milhares de pessoas passam fome e dezenas estão nadando no mar de lúxurias e desperdício.
Diria que o mundo só vai ser diferente o dia que o homem perceber que o necessário é essencial à vida. Que partilhar é melhor do que juntar. Que perguntar é melhor do que mandar.
Ser feliz é resultado do que somos.
Será que quem tem muito realmente é feliz?!
Vai a pergunta.
Abraços fraternos e tudo de bom
Sandra
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