Talvez por questões relacionadas ao ego ou por falta de noção mesmo, dou-me, com certa regularidade, ao trabalho de formular teorias puramente empíricas e para uso próprio.
Faz um tempo que desenvolvi esta que hoje compartilho aqui. Trata-se da teoria que tenta explicar a relação de algo ideal e de algo relaxado. Para mim, lembre-se: a teoria é minha e serve para mim, talvez você discorde, e eu acredito que você deveria mesmo discordar. Para mim, relaxo é um estado momentâneo de espírito que, se bem empregado, pode ser muito, mas muito benéfico.
Vejamos um exemplo: O quarto do João é um relaxo. É que o João trabalha muito, sai de casa cedo e só volta a noite. Para ele, chegar em casa, deitar-se na cama depois do banho e relaxar, não se importando nem um pouco com aqueles dois ou três pares de meia que estão pelo chão, é tudo de bom! Para o João relaxar é poder curtir um livro, a TV ou navegar na net sem ligar a mínima para o edredom embodocado sobre a cama. Aliás, para ele, essas pequenas coisas fora do lugar são quase que um troféu por ter feito coisas importantes ao longo do dia. Algo como: “dane-se essa merda, eu tenho coisas mais importantes para fazer do que ficar arrumando meias e dobrando cobertores”. Legal. Viva o João!
Mas, em outras situações, como na hora em que o João está lá fazendo as coisas que realmente importam o relaxo não é permitido. Pois, não dá para relaxar na hora de elaborar aquele relatório, ou de apresentar-se para um cliente em potencial. Nessa hora o João mata-se em busca do ideal, para que tudo fique perfeito, com cada vírgula no seu devido lugar e cada pingo no seu respectivo “i”.
Acho que entendi. O relaxo e o ideal são extremos opostos?
É claro que não! O relaxo é o meio ou, talvez, nem esteja nessa linha. Pois, como eu disse, é um estado de espírito que serve muito bem para certas ocasiões da vida. O extremo oposto do ideal é o esculacho. É quando o relaxo extrapola aquele momento em que ele é bem-vindo para apoderar-se, mesmo que aos poucos, da sua vida levando tudo para o caos. Como um buraco negro que vai sugando tudo para as trevas eternas. O esculacho é quando o João deixa o prato com restos de comida no quarto, mesmo quando o cheiro já indica algo podre; quando começa a beber água na concha porque não há mais um só copo limpo no armário; quando documentos importantes somem; contas deixam de ser pagas por mero esquecimento. E o esculacho vai crescendo, dominando tudo e, quando o João menos espera, sua vida virou de cabeça para baixo. Seu IPVA não foi pago e seu carro foi guinchado; o relatório não foi entregue; o cliente ficou na mão; sua namorada está há horas esperando no restaurante… O João foi sugado pelo seu esculacho porque não dedicou uma hora por semana para lavar a louça, arrumar os papéis, controlar a agenda, dar uma checadinha no saldo do banco, ligar para aquele velho e bom amigo, lavar o carro, ou para almoçar com a namorada.
João, João, trabalhe bastante, relaxe no fim do dia, mas deixe de preguiça, crie vergonha na cara, lave essa louça e penteie esse cabelo, “façavor”!
Rodrigo Cirino de Souza
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