21 de out. de 2015

O HOMEM

Episódio 3


Fazia tempo que o homem não aparecia na sala de jogos. Todo mundo, ou quase, ia para lá depois do almoço. Mas, como você bem sabe, o homem não era todo mundo. Se bem que naquele momento não passava de mais um pobre, na plenitude da palavra, infeliz.

Coitado, pobre coitado! Mal entrou já tomou uma bolada na cabeça advinda da mesa de ping pong, fruto de um poderoso corte diagonal, movimento preciso e precioso de Lovatto que, com a raquete na boca, dançava comemorando o ponto como se tivesse vencido Sampras na final de Winbledon... Sujeitinho desprezível... Malditos caras do TI!

Love, como gostava de ser chamado, acenou num gesto de desculpas por quase arrancar o nariz e o pouco de dignidade que ainda restava ao homem. Ele, o homem, sorriu seu sincero e amarelo sorriso e acenou de volta. Mas, ao erguer o braço, derramou seu café.

É, por hoje tá bom, melhor voltar para o setor.

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“O homem” são crônicas de mão esquerda e “crônicas de mão esquerda” são textos escritos à luz da inspiração do momento, sem grandes pretensões poéticas e preocupações ortográficas. Tudo feito a lápis e com a mão esquerda. Para treinar o outro lado do cérebro, sabe?
No entanto, se você for canhoto, essa maravilhosa terapia alternativa não pode ser praticada por você. Nesse caso, consulte sobre as “crônicas de mão direita” plenamente desaconselháveis para os destros.

Boa leitura.

21 de jul. de 2013

Existem limites entre ambição e ganância?

Capturar222
Em “A Revolta de Atlas” Rank Rearden é cassado pelo bando de fracos e corruptos da época. Covardes que se apoiam em leis corruptas para impedir o progresso e a realização pessoal dos gênios daquela época. Para quem não leu, Rank desenvolve, ao longo de 10 anos, com muito suor, dinheiro investido, noites em claro e, obviamente, torcida contra, um novo metal, que é mais forte, mais leve e mais barato que o aço… Algo capaz de revolucionar o mundo inteiro, de mudar o rumo da história, da indústria, da vida das pessoas… Um metal capaz de otimizar recursos naturais, de proporcionar motores mais duráveis e mais potentes; pontes maiores, mais leves e mais resistentes, enfim, uma nova era… Mas, ele não consegue seguir em frente, não consegue dedicar sua energia para melhorar sua invenção. Ao invés disso, ele precisa gastar suas fichas lutando contra aqueles (fracos) que acham que sua invenção irá quebrar o mundo, destruir a indústria e a sociedade… E usam todo o sistema para fazê-lo parar. Sem escrúpulos, manipulam a opinião pública, emitem pareceres vazios que visam, única e exclusivamente, deter o crescimento, o progresso.
Mas, será que a ambição é tão ruim assim? Será mesmo que o capitalismo é um sistema egoísta? Será que o sonho de um homem, sua luta e superação pessoal, precisa ser detido a qualquer custo em nome do bem comum?
Ou o “bem comum” está ligado a isso? Quando um homem sozinho cria uma empresa ele não emprega um monte de gente que passa a ter condições de alimentar seus próprio sonhos e crescer? Um homem, por mais egoísta que seja, não mantem um império sozinho, ou mantem?
Quando Rearden, na ficção de Ayn Rand, descobre um novo metal ele ameaça toda uma indústria ou abre portas para uma nova era? Condena alguns ao fracasso ou abre oportunidades para outros?
Quando Steve Jobs e Bill Gates apresentaram suas inovações para a era a informação eles mereciam ser crucificados por estarem ameaçando as máquinas de escrever? Quando Jobs mostrou o Iphone pela primeira vez, ele não quebrou a indústria do telefone celular 1.0. Ele abriu portas para novas tecnologias. Do Iphone vieram centenas de outros smartphones; dele veio o Ipad e dele tantos outros tablets que fizeram os fabricantes de notebook se mexerem, correrem atrás… As companhias de telefonia móvel tiveram que se reinventar para dar conta da nova demanda mobile; os fabricantes de filmes de vinil viram, nas películas, uma oportunidade de mercado (imagina vender um pedacinho de vinil por 150 reais para cobrir a tela de um ipad); a tiazinha costureira começou a fabricar capas decorativas para iphone e ipad; os camêlos de Sampa vendendo capinhas protetoras para smartphones, fones de ouvido, carregadores para carro… O mundo balançou e se reinventou, muita gente conseguiu emprego; muita gente começou a pensar em estudar; muita gente teve vontade de tirar aquela ideia maluca da gaveta e apresenta-la ao mundo; muita gente evoluiu… Tudo porque um cara visionário inventou um novo telefone, que quebrou meia dúzia de empresas e criou centenas de outras…
Será que o capitalismo é tão ruim como alguns dizem? Ou é o socialismo que é uma verdadeira utopia mentirosa?
Será que a ambição é ruim? Ou é a ganância que o é?
Ambição e Ganância… Quais os limites entre uma e outra?
Você pensa nisso?
Nós pensamos, e pensamos em crescer e ajudar muita gente a crescer junto com a gente.
E você? Afinal, em que você pensa?

A teoria do relaxo


genius fodr
Talvez por questões relacionadas ao ego ou por falta de noção mesmo, dou-me, com certa regularidade, ao trabalho de formular teorias puramente empíricas e para uso próprio.
Faz um tempo que desenvolvi esta que hoje compartilho aqui. Trata-se da teoria que tenta explicar a relação de algo ideal e de algo relaxado. Para mim, lembre-se: a teoria é minha e serve para mim, talvez você discorde, e eu acredito que você deveria mesmo discordar. Para mim, relaxo é um estado momentâneo de espírito que, se bem empregado, pode ser muito, mas muito benéfico.
Vejamos um exemplo: O quarto do João é um relaxo. É que o João trabalha muito, sai de casa cedo e só volta a noite. Para ele, chegar em casa, deitar-se na cama depois do banho e relaxar, não se importando nem um pouco com aqueles dois ou três pares de meia que estão pelo chão, é tudo de bom! Para o João relaxar é poder curtir um livro, a TV ou navegar na net sem ligar a mínima para o edredom embodocado sobre a cama. Aliás, para ele, essas pequenas coisas fora do lugar são quase que um troféu por ter feito coisas importantes ao longo do dia. Algo como: “dane-se essa merda, eu tenho coisas mais importantes para fazer do que ficar arrumando meias e dobrando cobertores”. Legal. Viva o João!
Mas, em outras situações, como na hora em que o João está lá fazendo as coisas que realmente importam o relaxo não é permitido. Pois, não dá para relaxar na hora de elaborar aquele relatório, ou de apresentar-se para um cliente em potencial. Nessa hora o João mata-se em busca do ideal, para que tudo fique perfeito, com cada vírgula no seu devido lugar e cada pingo no seu respectivo “i”.
Acho que entendi. O relaxo e o ideal são extremos opostos?
É claro que não! O relaxo é o meio ou, talvez, nem esteja nessa linha. Pois, como eu disse, é um estado de espírito que serve muito bem para certas ocasiões da vida. O extremo oposto do ideal é o esculacho. É quando o relaxo extrapola aquele momento em que ele é bem-vindo para apoderar-se, mesmo que aos poucos, da sua vida levando tudo para o caos. Como um buraco negro que vai sugando tudo para as trevas eternas. O esculacho é quando o João deixa o prato com restos de comida no quarto, mesmo quando o cheiro já indica algo podre; quando começa a beber água na concha porque não há mais um só copo limpo no armário; quando documentos importantes somem; contas deixam de ser pagas por mero esquecimento. E o esculacho vai crescendo, dominando tudo e, quando o João menos espera, sua vida virou de cabeça para baixo. Seu IPVA não foi pago e seu carro foi guinchado; o relatório não foi entregue; o cliente ficou na mão; sua namorada está há horas esperando no restaurante… O João foi sugado pelo seu esculacho porque não dedicou uma hora por semana para lavar a louça, arrumar os papéis, controlar a agenda, dar uma checadinha no saldo do banco, ligar para aquele velho e bom amigo, lavar o carro, ou para almoçar com a namorada.
João, João, trabalhe bastante, relaxe no fim do dia, mas deixe de preguiça, crie vergonha na cara, lave essa louça e penteie esse cabelo, “façavor”!

Rodrigo Cirino de Souza

28 de out. de 2010

Frankciésmiélcion homem bom.

Frankciésmiélcion era um homem bom.

Bom, bonito e barato.
Bom porque tendo sido criado em família religiosa aprendera desde cedo a ser homem digno e honrado, mesmo que não soubesse ao certo o que isso significasse.
Bonito porque ainda se lembra da Tia Gilmara dizendo: “Esse menino é tesouro, parece o Macgyver”.
E barato porque não tinha na cidade alguém que trabalhasse tanto e recebesse tão pouco.
Mas Frank está feliz (não o chamem de Frank, ele odeia).
Apesar das dificuldades vai se casar.
A noiva não é lá essas coisas, mas já aprendeu a pronunciar seu nome direitinho. Frankciésmiélcion e Ana se casam em breve
O primeiro filho, quando Deus mandar, chamar-se-á Frankciésmiélcion Aparecido Batista do Perpétuo Socorro Neto em homenagem ao avô paterno ou Pedro Silva Neto em homenagem ao avô materno.
O casal ainda não chegou num acordo.

30 de abr. de 2010

Ambiliriel, Abnedegardison e Esbulendégson Silva do Perpétuo Socorro.

3 irmãos.

Quando o primeiro filho nasceu Seu João e Dona Maria não se aguentavam de tanta felicidade. Tudo bem que seria mais uma boca para comer (mamar no início), mas onde comem dois, comem três... O problema é que na casa de Seu João ultimamente não comia ninguém (no bom sentido). Mas passado o susto inicial e superados os primeiros meses de dificuldade, seu João finalmente conseguiu um dia para ir até a cidade e registrar o menino (sim, menino, do saco roxo como manda o Conselho Federal dos Machos do Norte). Já na cidade finalmente seu João se viu diante do Tabelião no Cartório de Registro Civil (o único num raio de três galáxias).
- Parabéns, como vai se chamar o herdeiro?
- Quem?
- O herdeiro.
- Herdeiro? O menino? Coitado, só se erdar a burrice do pai e a feiúra da mãe, ou vice e versa... (na verdade Seu João não disse isso, só pensou).
- Eu não sei ainda.
- Não sabe?
- Não.
- Mas o senhor veio aqui para registrar o menino, não veio?
- Sim, vim.
- E não sabe o nome?
- Não.
- Mas como isso, o senhor não falou com a mãe?
- Com a minha mãe?
- Não. Com a mãe do menino.
- Ah, a minha véia... Não, a gente não falou disso não.
- Mas...
- A gente não proseia muito não...
- Mas como ela chama o menino?
- Menino, fio, coisa, trem... Cada hora de uma coisa.
- Não é possível.
- O que?
- Deixa pra lá. O negócio é que o senhor precisa achar um nome, senão não posso registra.
- O senhor me ajuda?
- Sei lá, coloca José, é simples mas tem a força do nome do pai de Jesus.
- Humm... Meio simples.
- Então põe Washington, é dos estrangeiro... Nome de gente importante.
- Não, muito fresco, depois o menino vira viado e a culpa vai ser minha.
- Então o senhor senta ali para liberar a fila e pensa um pouco.
Meia hora depois:
- Pronto, ta aqui ó, escrevi o nome que é pro senhor não correr o risco de errar no registro.
- O que???
- O que o que?
- O senhor tá falando sério?
- Claro ora... É um nome diferente, não quero nome simples, nem de fresco no meu filho.
- Bom, então tá.
E assim registrou-se sob o número (não importa), da comarca de Nossa Senhora da Piraporinha do Norte, o primogênito do Seu João: Ambiliriel Silva do Perpétuo Socorro, que mais tarde (9 meses depois) se tornaria irmão de Abnedegardison Silva do Perpétuo Socorro e 7 meses depois (nasceu prematuro) do caçula da família Esbulendégson Silva do Perpétuo Socorro.
A mãe, pelo menos é o que dizem, gostou tanto do primeiro nome que deixou para o pai a escolha do nome dos demais, percebe-se.

27 de out. de 2009

CRÔNICAS DE MÃO ESQUERDA

“O homem” são crônicas de mão esquerda e “crônicas de mão esquerda” são textos escritos à luz da inspiração do momento, sem grandes pretensões poéticas e preocupações ortográficas. Tudo feito a lápis e com a mão esquerda. Para treinar o outro lado do cérebro, sabe?
No entanto, se você for canhoto, essa maravilhosa terapia alternativa não pode ser praticada por você. Nesse caso, consulte sobre as “crônicas de mão direita” plenamente desaconselháveis para os destros.

Boa leitura.

O HOMEM


Episódio 2


O homem lavou as mãos, mas sem usar sabão e assim que saiu do banheiro deu de cara com Sergy, francês, solteiro, 35 anos (com corpinho de 20, como ele mesmo diz) e de gosto duvidoso. Se olharam - o homem com um sorriso amarelo sincero e Sergy com um sorriso branquinho falso - se cumprimentaram com um aperto de mão que fez com o que o homem se arrependesse de ter lavado-as.
Sergy rapidamente sumiu pelo corredor e o homem ali parado. Olhou para a garrafa de café e voltou para a sua sala com um copo de água. Ainda tinha muito trabalho a fazer... Inúmeras solicitações de férias para lançar e Eeepâ!!! Alguém lançou a data errada!!! - O homem ficava puto da cara quando lançavam a data errada - Passou a mão no telefone e ligou:

- Alô?
- Oi, o Ronivon está? – Disse o homem nitidamente irritado.
- Tá ocupado.
- Tá em reunião?
- Não, não tá.
- Então me deixa falar com ele porra!

“Ai meu Deus”, eu disse porra...”
E agora? Eu disse porra para a estagiária.... E se ela me acusar de assédio moral? Pior, e se me acusar de assédio sexual, afinal porra tem conotação sexual. Sim, tem muita conotação sexual. Ai, ai, ai, ela vai falar com o meu chefe. Ele vai me chamar para dar explicações. O que eu vou falar? Talvez ele queira explicações, talvez me mande embora logo de cara. É, vai ser melhor assim... Logo de cara, sem exposição. Sem constrangimentos é bem melhor. NÃO!!! Não é não. Se eu for mandado embora como é que eu vou pagar as prestações da moto? Fodeu. Já sei, vou dizer que estou com problemas, com estresse. Isso... Não, não, não. Estresse todo mundo tem e nem por isso saem por aí assediando estagiárias. Vou dizer que estou com psicopatia aguda; que estou fazendo análise e tomando remédios fortes. Isso. Ele não vai ter coragem de mandar um doente embora. Putz, vai sim, e sem o menor problema. Ai caramba eu to fodido, demitido por justa causa, acusado de assédio sexual... Nunca mais arrumo emprego. Fodeu de vez. Já sei... Vou lá e peço a conta, agora, na lata, antes mesmo dele ficar sabendo. Depois fica fácil, é só dizer nas entrevistas que resolvi sair porque já não havia mais desafio e por isso estou à procura de uma recolocação onde eu possa mostrar todo o meu potencial. Isso mesmo, vou lá agora e acabo com isso.

- Alô? Senhor? O Sr. ainda está aí?
- Oi!?
- Ah, achei que a ligação tinha caído... O Ronivon estava em outra ligação, mas já desligou, to passando para ele. Tchau, boa tarde.